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A flor que não me deste

R$ 35,00

2022
88 páginas
14×21 cm
ISBN 978-65-997486-4-6

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Diego Deneno Perez

Diego Deneno Perez, nascido e residente em São Paulo, capital, dedicou-se, por meio da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ao estudo de Sociologia durante dois anos, ao mesmo tempo em que atuava como vendedor em livrarias. Em 2015, formou-se em Gastronomia e, enquanto residiu em Cabo Frio (RJ), exerceu a profissão. Em 2016, voltou para São Paulo, período em que dá início à sua formação em Psicologia, também pela PUC-SP. Atualmente, concentra-se na sua especialização em Psicanálise pelo Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP). Também integra o grupo Rainbow, destinado ao atendimento psicológico voltado à comunidade LGBTQIA+, ao mesmo tempo em que atua com questões de gênero, estudando tal fenômeno em sua complexidade histórica e na forma como se apresenta nas relações familiares, sociais e institucionais.

Descrição

“Desde quando você apresenta ideações suicidas?”

“Desde sempre, doutora”.

Seus olhos franzidos e seu semblante confuso me pedem maiores explicações.

“Já no útero, doutora, quando percebi que, contra minha vontade, a vida me seria concedida, rebelei-me de imediato. Busquei o primeiro objeto à minha frente e foi quando encontrei uma espécie de corda. Tratei prontamente de enrolá-la em meu pescoço, com a maior força que pode um feto possuir. Nasci sufocado, o oxigênio já não alcançava meu cérebro, não me haviam forças para emitir meu primeiro grunhido asqueroso e minha pele tornava-se cada vez mais arroxeada. Estava funcionando, tudo saía conforme o planejado. Até que os vultos de jaleco branco, ‘os deuses encarnados’ que se sentem no direto de em tudo intervir, romperam bruscamente o cordão, interrompendo meu enforcamento. Num ato de egoísmo obrigaram-me a integrar este mundo que me causa repulsas e no qual não caibo. Esta foi minha primeira tentativa frustrada de suicídio, doutora”.

 

Orelha

 

A obra A flor que não me deste trata-se de um romance de magnitude ímpar. Ora denso, ora marcado por um humor ácido, temos como base principal a internação do protagonista (não nomeado) numa clínica psiquiátrica, por motivos inicialmente desconhecidos. Divido em três partes, o livro intercala as vivências institucionais com recordações de momentos traumáticos, que envolvem, principalmente, a presença de um pai austero e violento. Desta forma, nos confrontamos com a adaptação do personagem na clínica, a qual impõe regras rígidas, assim como apresenta condutas questionáveis, ao mesmo tempo em que adentramos nas suas lembranças de infância, o desencontro de línguas com este pai, severo e conservador, bem como o curioso flerte com a morte que se manifesta em seu imaginário desde cedo.

Descrita de forma potente, poética e, por vezes, cômica, nos é revelada a relação do protagonista com a anorexia e bulimia no início da vida adulta, sendo este apenas o ponto de partida para uma enxurrada de recordações de episódios marcados por descobertas, intolerâncias, violências extremas, relacionamentos tóxicos e demais infortúnios que acabam por culminar num ciclo de autodestruição.

Permanecemos acompanhando, em paralelo, os acontecimentos internos da clínica (temos acesso às mais diversas histórias de vida dos demais internos e os motivos por estarem ali) e notamos fatores nocivos presentes no cotidiano, como práticas pautadas na agressividade e negligência, o que leva a uma reflexão que coloca em paralelo a violência institucional com a violência doméstica, ambas experienciadas pelo narrador.

Entre relatos e recordações, a figura paterna opera quase que de forma fantasmagórica, e se faz presente nas entrelinhas de cada página, por meio da potência com que é reproduzida sua personalidade autoritária e intransigente, ainda que desde o início se possa notar os sacrifícios realizados pelo protagonista, visando uma possível aproximação, um reconhecimento, um olhar sequer.

Numa linguagem dilacerante e arrebatadora, por vezes irônica e sagaz, transitando entre autores como Tati Bernardi e Édouard Louis, o livro proporciona momentos de intensa identificação, entre angústias, horror, humor, lágrimas e risadas nervosas. Recheada em cada capítulo por questões existenciais, problemáticas familiares, intolerância e preconceito nas suas mais diversas manifestações, sofrimentos intensos e obsessões, investigações acerca do psiquismo humano, a obra A flor que não me deste se apresenta, mais do que nunca, como uma leitura urgente e necessária.

Editora Versi Prosa
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